Produção Bangalô Filmes - Direção de João Pavese
Curadoria da exposição - Katia Canton
Produção Bangalô Filmes - Direção de João Pavese
Curadoria da exposição - Katia Canton
Postado por João Pavese às 14:25 1 comentários
Estes dias estava vendo um programa no Discovery Channel. A chamada dizia: Sexo Selvagem. Parei de zapear e puxei dois travesseiros.
A fêmea do albatroz escolhe os machos pela qualidade de suas patas. Quando o macho pousa, elas reparam se as patas tem um tom azulado, limpas, e então se aproximam. Começa uma dança de bicos, como lutadores de esgrima, as asas se abrem e se fecham, até que o macho aproveita a brisa do mar, contrai a envergadura das asas e monta na fêmea num rala e rola chamado pelo narrador de "cópula de cloacas".
Aí o programa parte para um peixe de porte médio de tom bem avermelhado, que acha uma loca entre as pedras como ninho. O peixe fica ziguezaguendo loucamente, como um boy de gol filmado pela frente da boate, até chamar a atenção da fêmea, bem avermelhada, linda. O macho entra e sai da loca, beija os corais, solta bolhas, falando " Aí gata, tô morando neste apê nos jardins, vamos lá tomar um vinho" E ela nada, continua nadando, beija coral, passa entre as algas. Bom. De repente chega um polvo ( aliás comi muito polvo na Bahia este verão, vinagrete, moqueca) que se esbeira pelas pedras, muda de cor, avança tentáculos até encontrar a loca do vermelhão, aquele apê nos jardins, e decide que vai passar um tempo ali, querendo o vermelho ou não.
Mas o vermelhão tá na seca, precisa dar um bimbex, e não deixa barato. Avança sobre o polvo, mordiscadas nos tentáculos, na cabeçona, até que o polvo desiste, cospe a tinta preta, e ganha a imensidão de azul profundo.
O vermelho volta para a loca. A fêmea reconhece o ato de heroísmo, ele é mais forte que um polvo, e então sucumbe aos encantos do seu garanhão, entra na loca.
Toca o telefone. Abaixo o som da TV.
- Oi, tô aqui na preguiça...Não, valeu vou ficar por aqui, tomei umas ontem, comi pastel, vou ficar de retiro...Sim sim, pode passar... vem pra cá...vinho não, tem sakê...beleza...tô por aqui.
Bom, era ela. Não me ligava faz tempo. Será que agora que eu fiz um doce e estou na minha a coisa engata?
A campainha.
Ela num traje indiano, sandália de dedo com miçangas, lápis de olho kajal, os lábios sempre úmidos, uma voz de seda no móvel de madeira envernizada, brincos combinando com o brilho do cabelo, e um movimento da roupa no corpo que com pouco tempo já podia imaginar a forma dela toda em pêlo.
Sem pensar, disse que ia tomar um banho rápido. Me espera na sala. Comecei a arrumar o quarto, acendi um par de velas, liguei o lava-lamp vermelho, me perfumei, abri o vinho, coloquei Sade, vesti aquela bermuda florida sem cueca, camisa de linho branca, fiz dez barras e 20 flexões escondidas na edícula e falei com o espelho: fêmea, seduzir uma fêmea, parece que finalmente aprendi.
Postado por João Pavese às 15:59 2 comentários
Postado por João Pavese às 15:52 1 comentários
Passar muito tempo usando só uma pequena fração do cérebro, pode realmente afetar a mente do caboclo. Todos aqueles dias naquelas ações repetitivas de tiques, coceiras, compromissos e angústias baratas atrofia nossa memória de tal maneira, que a hora que nos permitimos um encontro com a dor, que exige uma certa profundidade, a coisa desanda.
Postado por João Pavese às 15:53 0 comentários
Se numa cultura de bactérias você joga uma gota de sacarose, as bactérias consomem o máximo que podem do açúcar, sem nenhum tipo de controle. A hora que o açúcar acaba, elas morrem juntas. O homem já consome mais de uma Terra em recursos naturais para manter o seu desenvolvimento. Todo mundo quer crescer, o Lula diz em 4,5 % ao ano, promete instalar não sei quantas hidrelétricas para suprir a matriz energética brasileira, que não pode parar de crescer, crescer e crescer.
Me pergunto: Crescer para onde? Neste modelo bactéria X Açúcar, crescer significa manter a indústria a todo vapor, gerar empregos, consumir reservas até atingir a meta absoluta: o colapso geral. Porque com este modelo de desenvolvimento estamos realmente acelerados em direção a extinção da espécie. O meteoro somos nós, de dentro pra fora.
Não sou esquerdinha purista chato, nem reacionário, muito menos frequento a Assembléia de Deus, mas me preocupa a tal da índole humana que foi depurada ao longo dos séculos e deu provas concretas que o caminho é este: da auto-destruição. O dinheiro sempre esteve na mão de poucos e continua (sem culpas). Até porque são estes empresários que geram empregos. E da mesma forma que eles conseguem transformar idéias em produtos de sucesso e gerar muita grana e vagas de trabalho, faz parte da índole destes caras explorar, consumir e concentrar riqueza. E isto o cara vai levar até a morte. Ele só opera nesta frequência.
E aí, ou você entra no jogo para sobreviver, pensando que a vida é curta, ou é marginalizado, com grandes chances de passar a existência na merda.
Postado por João Pavese às 05:17 0 comentários